segunda-feira, maio 19, 2008

OS HAVERES E OS VALORES

Emigrantes Portugueses num bairro de lata (bidonville), nos subúrbios de Paris.
Foto de Gérald Bloncourt


Ontem, foi dia dos museus. Foi dia de visitar a exposição fotográfica de Gérald Bloncourt, patente no museu Berardo, no Centro Cultural de Belém. Exposição muito interessante, realçando as dificuldades por que passaram os emigrantes Portugueses em França nas décadas de 50 e 60. Com visita guiada, então fica-se "por dentro".


Com o espírito crítico que sempre me acompanha, estou normalmente atento. Aconteceu então que à minha frente, contemplando os quadros, seguia um casal com um ar "intelectual", "benzoca", com um miúdo de 4 a 5 anos de idade. Passávamos de sala em sala e a sequência era a mesma: o casal com o miúdo, à minha frente. Devido à proximidade, não pude deixar de ouvir os comentários de qualquer um deles, sempre que olhavam uma fotografia. A determinada altura diz o miúdo, apontando para a fotografia de uma casa de madeira já apodrecida, com telhado de zinco, típica dum bairro de lata:
- Pai, olha ali aquela casa. É igual à do avô António!
- Não é nada filho... diz o pai, olhando para mim com ar embaraçado.
- É sim pai. Então não vês?


Mas o pai não queria ver, ou melhor, não queria que eu visse! Tal como muitos pais que tentam esconder dos filhos, principalmente em sociedade (porque as crianças dizem na rua o que ouvem e vêm em casa), as sua origens humildes. Pais a quem interessa transmitir apenas os haveres, não os valores. Esta sociedade de "engravatados" e "visons falsos" rejeita as origens e os valores. Esta sociedade do "faz de conta" não é a sociedade que queremos. Mas é a sociedade que temos!

2 comentários:

Eu sei que vou te amar disse...

Concordo plenamente, uma sociedade "fake"que leva com que os proprios rejeitam as suas origens para aceitar uma realidade que não é a sua, vivem de imagens, falsidade, rejeitando valores que são essenciais para crescermos como ser humanos, com tantas calamidades, ainda ha tempo para a superficialidade!
Infelizmente as crianças de hoje têm como exemplo os pais....

Anónimo disse...

Sifrônio.

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